Zé entrevista o economista Paulo Rafael

Zé entrevista o economista Paulo Rafael
Zé Paulo – Por qual razão escolheu estudar economia?
 
Paulo Rafael – Sempre gostei de matemática e história, fiz alguns testes vocacionais e apontavam para Administração e Economia, antes havia me formado em Técnico em Contabilidade, e para minha surpresa a carga de matemática era muito aquém do que eu esperava, pesquisei muito sobre o curso antes do Vestibular, tanto pela Internet como com economistas, fora isso, na efervescência de querer “mudar” o Brasil e entender um pouco as mazelas e as disparidades sociais e econômicas no Brasil, decidi prestar vestibular para Ciências Econômicas.
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Zé Paulo – Qual sua opinião a situação econômica do Brasil?
 
Paulo Rafael – Os índices em sua maioria não são favoráveis, o Brasil cresce muito aquém do esperado, e é um crescimento a base de Gastos Governamentais e Consumo, que usa uma Política Econômica com diversos receituários questionáveis. A política monetária precisaria de reformas estruturais, de modo a não reprimir o consumo quando a inflação foge da meta estabelecida pela Autoridade Monetária, esta tem um componente de inércia e a tratam como inflação de demanda, aumentam a Selic para reprimir o consumo e “controlar” a Inflação, o que em minha opinião não é eficaz. Uma política fiscal expansionista que preza pelos Gastos do Governo e pagamento dos Juros da Divida Pública e na hora de reprimir Gastos, tem “ideias” de todos os tipos, exceto diminuir os Gastos do Governo. Fora isso, temos excesso de tributos, serviços públicos ruins, um aparelhamento do Estado cada vez maior e totalmente desnecessário, bem como, cartéis “invisíveis” da indústria que majoram os preços dos produtos, com a premissa que o Custo Brasil é muito alto, sendo que o Mark-Up destas é muito alto. Além é claro da Ilusão Monetária presente na mente da população de que temos dinheiro, que o crédito é barato, que temos que gastar o mais rápido possível, e um Marketing muito bom para fazer com que as pessoas pensem primeiro em gastar e não em poupar.
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Zé Paulo  – Focando num tópico citado em sua resposta.  O  aparelhamento do Estado gera ineficiência?
 
Paulo Rafael – Sim, gera ineficiência, isso é nítido quando analisamos aspectos simples da Economia Brasileira, podemos citar o caso da Telefonia no Brasil que era controlada diretamente pelo Governo, e depois da Privatização, o serviço melhorou consideravelmente, bem como, o acesso as linhas telefônicas, na década de 90 uma linha de telefone era vista como um Investimento, dado o alto valor de mercado. O Estado através de diversas regras, regimentos e trâmites permite que decisões simples demorem a ser tomadas, enquanto na iniciativa privada, se uma empresa não atender de forma no mínimo regular, o indivíduo procura a concorrente. Outro aspecto que poderíamos
citar seria sobre a produção da Vale antes e depois da Privatização.
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Zé Paulo do Carmo  – E a corrupção?
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Paulo Rafael – Quanto a corrupção isso não é um fato que só acontece no Estado, infelizmente está enraizado na sociedade brasileira, e vimos muito disso também na Iniciativa Privada. A corrupção ou o tão aclamado e valorizado: “jeitinho brasileiro” está em todas as esferas da sociedade, bem como, na Economia através do Estado ou da Iniciativa Privada. Enquanto não houver uma legislação séria para coibir a Corrupção, ficaremos com a sensação de insegurança e de injustiça.
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Zé Paulo – Temos um Estado com uma tributação com padrões de países desenvolvidos e os serviços oferecidos estão aquém do nível aceitável. Existe alguma reforma tributária viável?
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Paulo Rafael – Sim. Um dado simples é o Imposto de Renda que está defasado e onera ainda mais a classe média. Há muitos impostos e taxas e a arrecadação do Governo só cresce a cada ano. Há algumas propostas que são eleitoreiras como o Imposto único, isso me faz lembrar dos anais de Economia, quando tinham a ideia de tributar somente a terra, pois dali tudo era produzido. A tributação brasileira é progressiva, e ainda estamos com algumas políticas defasadas que vem desde o inicio do Século passado, alta tributação em produtos importados, isso faz com que o cidadão opte por comprar um produto nacional, mesmo que este tenha uma qualidade inferior ao estrangeiro, vale lembrar que os países orientais aproximadamente nos anos 60/70 decidiram não tributar os produtos vindos de fora, a ideia era fazer com que a Indústria local acompanhasse a internacional, e hoje vimos a que esses países são Potência em produtos de alta tecnologia, enquanto no Brasil, muitos acreditavam que tal política traria muito desemprego, perda do poder de compra e etc. Acredito que de maneira gradual, o Governo deveria tomar diversas medidas para permitir que a os tributos fossem reduzidos, citei aqui o IR e o Imposto de Importação. Mas há vários outros impostos que de maneira direta ou indireta, encarecem os valores dos produtos bem como o de serviços. Falta vontade política para mudar. Até porque o interesse do Estado é arrecadar e aumentar e ou manter os Gastos do Governo, e como o Estado só arrecada através da Tributação, não acredito que tenham como estratégia alterar a carga tributária brasileira, podem até fazer pequenas políticas de incentivo para algum setor em especifico, mas uma Reforma Tributária profunda, isso infelizmente não é interessante aos Governantes.
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Zé Paulo – Neste ano teremos a realização da Copa do Mundo no Brasil, uma das grandes promessas deste evento era o legado que seria deixado para as cidades sedes.  Teremos realmente este legado?  Aproveite e comente qual sua visão sobre a realização destes eventos em países não desenvolvidos.
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Paulo Rafael – Fui contrário a ideia de sediar a Copa do Mundo desde o inicio, acho que o País deveria primeiro se
preocupar com Educação, Saúde, Infraestrutura e combate a Corrupção entre outros. Usaram como base para a aprovação popular a questão da Infraestrutura, venderam a ideia de que com a Copa, a infraestrutura iria melhorar
consideravelmente, iriam abrir novos postos de trabalho e o turismo traria muito retorno financeiro e visibilidade internacional, colocaram a Copa como uma “solução” para que o Brasil tivesse um crescimento econômico consistente e saudável, essa foi a idéia quando venderam para a população. Passado o tempo, vimos que a infraestrutura pouco mudou, a mobilidade urbana também não houve grandes alterações, vimos que as “Sedes” foram escolhidas por politicagem, pois cidades como Manaus, Pantanal, Brasília, não tem clubes de futebol na primeira divisão para suportar os “elefantes brancos”, bem como, diversas instalações da Copa, foram uma maneira de desviar recursos públicos que deveriam ser aplicados em áreas de maior necessidade. A Copa foi um erro desde o inicio, mas o Marketing inicial foi tão bem feito, que poucos analisaram os prós e contras de tal evento no Brasil. Quanto a Grandes Eventos Esportivos como Copa ou Olimpíadas em países sub-desenvolvidos, isso deve ser analisado criteriosamente em cada país, pois é um contexto que cada Nação deve analisar e inferir os prós e contras de eventos de tal magnitude.
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Zé Paulo  – Você acredita na possibilidade que a realização da copa pode gerar impactos negativos ou positivos na eleição?
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Paulo Rafael – Quem trouxe a Copa e as Olimpíadas para o Brasil? Todos sabemos a resposta. Agora uma outra pergunta, qual o impacto que isso tem gerado no “Pai” da idéia? Nulo. Não vejo a Copa como um fator determinante para a população média que é a que elege os governantes brasileiros, altere o cenário político. Quanto aos manifestantes ou os que tem um bom conhecimento político, acredito que farão um voto de protesto, que tanto pode ser por algo novo, mas que ao mesmo tempo que mantenha um certo conservadorismo, como podem na ausência de políticos que apresentem propostas significativas ou sérias, votarem em candidatos de apelo popular como Cantores, Atores, Comediantes e ex-jogadores de futebol. O impacto ainda é uma incógnita na população média brasileira, mas se fosse apostar, apostaria em impacto nulo no Núcleo da Política Brasileira, enquanto na margem vejo alguns novos nomes ou a solidificação de alguns que já tem uma ideologia que foge um pouco dos padrões da política nacional, tais como Bolsonaro e Feliciano.
 
Zé Paulo   – Nas ultimas semanas presenciamos um embate entre o PMDB e o PT. Segundo alguns analistas políticos o que está em jogo é uma disputa por cargos e uma tentativa peemedebista de frear a estratégia petista de aumentar o número de deputados nas próximas eleições. Quais as suas observações sobre a relação entre o poder executivo e legislativo no âmbito federal?
 
Paulo Rafael – Relação de interesses de como e quando aumentar o poder. Todos os partidos políticos usam de diversas estratégias para poder angariar Ministérios, Secretarias e cargos em Estatais, é uma briga de partidos gigantes que tem como ideia a solidificação e manutenção de seus partidos no poder. O que causa um pouco de constrangimento é que os tais partidos não são antagônicos, não são diferentes na essência, um político ou outro destoa um pouco, de restante, é difícil você identificar uma ideologia num partido grande, parece que todos são iguais, a única diferença no âmbito federal é a velha briga entre PT e PSDB, sendo que em essência são muito parecidos, sendo que o PT ainda carrega uma áurea de Partido do Povo e o PSDB o Partido da Elite, o marketing do PT é poderoso e o anti-marketing solidifica ainda mais a marca. O que vou falar pode até ser utópico, mas gostaria que ideias fossem discutidas de forma a melhorar o País e não ficar presenciando essas brigas de manutenção no Poder. O Brasil é um país cheio de disparidades e ineficiências que deixam pra depois, o importante é se manter no poder, pouco importa se tem ideias ou iniciativas, o Brasil ficou em segundo plano, em primeiro plano é o Poder pelo Poder.
Zé Paulo  Interessante a resposta poder pelo poder, me fez recordar de alguns debates de Marina em 2010. Aproveitando o tema, quais suas considerações sobre a aliança Campos e Marina?
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Paulo Rafael –  Uma ótima aliança, Marina obteve 20 milhões de votos na eleição passada, esses votos em sua maioria de pessoas que estavam cansadas dos mesmos atores políticos (PSDB e PT), e gostariam de um outro projeto ou uma nova maneira de governar o Brasil. Campos ainda é desconhecido no cenário nacional, o eleitorado dele é do Nordeste e não há muitas informações sobre seu Governo, informações essas que serão levantadas assim que começar o horário político, já Marina tem um bom apelo, mas a imagem aparente de mulher simples e frágil, ainda é prejudicial em muitas esferas da sociedade. É uma terceira via para os possíveis presidenciáveis, mas se bem trabalhado, podem surpreender e irem para o segundo turno, visto que o PSDB por mais que seja um Partido Grande, é um partido que não tem organização e união, e não vejo o Aécio como um nome forte para o Estado de São Paulo e região Sulista. Acredito que a estratégia do PT será assemelhar a imagem de Campos a Collor e a de Marina em uma mulher frágil.
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Zé Paulo do Carmo – Notamos que a internet é um ambiente propício para o debate, mas quando ocorre o acirramento de opiniões divergentes o debate foge da argumentação e entra campo da ofensa pessoal. Você consegue identificar algum fator que explique este evento?
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Paulo Rafael – Há partidos políticos que pagam para que guerrilheiros virtuais entrem nos debates de forma a desviar o foco da discussão, e começar uma “Guerra” virtual. O debate fica pobre, pois o assunto principal acaba ficando em segundo plano. Isso já era muito comum em debate político, vimos muito disso na TV em época de eleição, Candidato A faz a pergunta para o B, e o B fala um monte de coisas sem nexo ou simplesmente ataca a honra de A, poucos lembram da pergunta, mas adoram ver a “briga” ou “discussão”, o assunto não importa mais, mas sim sobre a honra ou a conduta de A. Isso passou a ser praticado na Internet, por exemplo: quando vejo alguém a favor da Condenação dos Mensaleiros, não discutem se tinham provas ou não, com que base levantaram tais provas, se na quebra do sigilo bancário foi provado alguma coisa, se há provas de que houve aumento no Patrimônio do réu ou dos familiares, a discussão vai para a parte rasa, que quem é a favor da Condenação é do PSDB/DEM e etc e tal. Nota-se que alguns grupos são orientados a praticar tais estratégias. Infelizmente estamos presenciando no Brasil uma confusão de ideias, não se discute mais o “crime”, mas se ele é valido ou não, tal Partido fez, mas o outro fez também, como se um crime inocentasse outro. Dias atrás vi um argumento de que uma pessoa pobre tem o direito de roubar, pois foi privado dela o direito de ter aquilo, e por incrível que pareça apareceram vários adeptos a esse “argumento”.
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Zé Paulo  – Alguns psicólogos comentam que a ausência de argumentação é a porta de entrada para a ofensa pessoal. Diante deste “oceano” de ignorância, é possível encontrar “ilhas livres” para um debate onde podemos discutir o Brasil?
Paulo Rafael – O melhor lugar de debate para mim continua sendo nas Universidades, há varias correntes de pensamento e um respeito maior entre os agentes. Um bom lugar para debater é com amigos e pessoas que tem um conhecimento político acima dos demais. Muitas pessoas que usam a internet para debater, muitas vezes fazem parte de grupos A ou B, e pra mim quem pensa em grupo, perde a individualidade. Encontrar um bom lugar na internet para debater política ou economia é um trabalho tão difícil que quem puder me indicar um, eu agradeço.
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Zé Paulo do Carmo, é economista e editor do blog JPE
Paulo Rafael, é economista.
Ambos são formados pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

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