Zé entrevista o economista Jorge Silva

Zé entrevista o economista Jorge Silva

 

Zé Paulo – Por qual razão decidiu estudar economia?
Jorge Silva – Primeiramente gostaria de agradecer o convite e a oportunidade para expor algumas ideias e opiniões através do seu blog. Bom, sempre gostei de acompanhar o noticiário econômico e também político do nosso país. Quando jovem enquanto meus amigos e até a família preferiam programas de entretenimento na TV eu buscava os noticiários, então foi a partir dessas experiências que optei pela Economia. No entanto, pensei anteriormente em outros cursos como administração e jornalismo, este último justamente pela possibilidade de poder falar sobre política e economia, mas durante o cursinho pré-vestibular descobri que eu poderia ir mais além, poderia atuar no meio e poder de alguma forma ajudar a mudar a triste realidade da nossa nação.
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Zé Paulo – Qual sua avaliação da política econômica adotada pelo governo da presidente Dilma?
Jorge Silva – A política econômica do governo Dilma tentou nos primeiros anos seguir a herança do antecessor, porém, nota-se que perderam o controle, especialmente sobre as contas públicas, o que é um risco. Infelizmente hoje vemos que algumas conquistas de governos anteriores estão sendo usurpadas por medidas desastrosas e danosas em médio prazo, como o controle da inflação através de medidas que buscam administrar preços, evitando o reajuste hoje, mas que serão efetuadas em outro período certamente com impacto ainda maior. Já tivemos essas experiências e não temos boas lembranças. Hoje vemos o descontrole das contas públicas enquanto a sociedade é onerada demasiadamente, não vemos responsabilidade alguma, pagamos altos impostos e recebemos praticamente nada de retorno, e o pouco que recebemos é de forma inadequada, com mau uso da verba e desvio de grande parte dela, resumindo a política fiscal expansionista do governo se mostra ineficaz. De outro lado temos uma política monetária que lança mão do aumento da taxa de juros para compensar as medidas desastrosas do ponto de vista fiscal, para tentar manter a inflação sob
controle. Nesse contexto temos, como sempre, uma sociedade cada vez mais onerada, um governo irresponsável com as contas públicas e um país com crescimento pífio, o qual perdeu mais uma vez a oportunidade de se desenvolver mais e obter maior visibilidade no cenário econômico mundial enquanto o resto do mundo estava em crise.
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Zé Paulo – Aponte os pontos fracos e fortes da gestão petista na presidência.
Jorge Silva – É muito difícil apontar pontos fortes em qualquer administração pública, mas na petista tem sido ainda mais difícil. Tivemos em governos anteriores alguns pontos importantes e que são mantidos até mesmo pela atual administração, neste sentido acredito que o ponto forte seja a manutenção das medidas benéficas ao país adotadas em governos anteriores, como o controle inflacionário e as políticas sociais. Como pontos fracos podemos citar vários, não só dos petistas, mas também dos antecessores. Especialmente dos petistas cito o aparelhamento do Estado, os descasos com a saúde e com a infra-estrutura do país e os casos de corrupção que assolaram a classe política, sempre protegida pelo governo federal com tentativas de desqualificar qualquer fato, mesmo que escancarado para a sociedade. Outro destaque é o uso da política social com meio para se manter no poder. As políticas sociais são necessárias, porém, são necessárias medidas para que isso não se perpetue e as pessoas não se acomodem por receber mensalmente dinheiro para se sustentar sem ao menos pensar em sair dessa situação. Hoje as famílias recebem dinheiro por terem filhos e não são preparadas ou qualificadas para retornar ao mercado de trabalho. Mas o que acontecerá com os filhos desses cidadãos? Como sobreviverão quando adultas sem uma comunidade desenvolvida ou preparada para absorver sua mão de obra? Que qualificação esse cidadão terá? Ou seja, temos assim uma forma moderna do voto de cabresto, mantendo cidadãos reféns de uma “esmola”, sem pensarem nos impactos futuros.
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Zé Paulo – Recentemente uma ala do PMDB ensaiou com alguns membros da base aliada uma “rebelião” contra o governo federal.  Com alguns acordos esta crise foi debelada.  Qual sua opinião sobre nosso congresso nacional e a maneira pela qual a situação consegue apoio?
Jorge Silva – Isso é apenas um pequeno exemplo da falta de caráter da classe política. Não devemos focar apenas no Congresso Nacional, pois temos exemplos em todas as camadas, principalmente às vésperas de eleições. Podemos citar as articulações no estado de São Paulo, onde ex-aliados, se tornaram rivais e hoje articulam em busca de segundos a mais na propaganda eleitoral. Infelizmente tivemos nos últimos anos uma oposição covarde que se esconde atrás de seus maus feitos do passado, como uma pessoa que não pode contar o segredo de outra porque esta sabe de coisas que podem prejudicar sua imagem. Temos uma busca incessante por acordos entre partidos quando estes acordos são para os interesses deles próprios, quando o interesse é da sociedade não vemos a mesma energia para negociações, mas sim a postergação do assunto até que caia no esquecimento. Pensamos em mudanças, mas infelizmente não temos muitas opções que mereçam nosso voto, está cada vez mais difícil. No entanto, não devemos cair no erro de não querer saber de política, se queremos mudar algo devemos nos interessar e participar. Se não temos opção, devemos ser a opção.
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Zé Paulo – Focando agora na política estadual em São Paulo, você concorda com a ideia que está sendo disseminada pelos adversários do Geraldo Alckmin que após 16 anos no poder o PSDB esgotou seu “estoque” de capital político? Comente os pontos positivos e negativos da gestão tucana em São Paulo.
Jorge Silva – Sempre fui a favor da mudança. Não podemos manter no governo um partido por tanto tempo, por mais que este tenha feito algo bom para a sociedade. Não devemos confiar em alguém durante 16 anos sem nunca mexer nas suas gavetas, a não ser que você não queira realmente descobrir algo. Não precisamos sequer chegar ao fim desse ciclo e já vimos os diversos casos de corrupção envolvendo o partido do governo e seus aliados, foi muito tempo sem abrir a gaveta. O governo tucano não foi dos piores, foi feliz em alguns pontos principalmente no que tange a mobilidade urbana. Fez boas ações também com a implantação do Poupatempo e do Bom Prato. Pouca coisa para quem está há 16 anos no poder. Como pontos negativos temos muitos. Um deles a educação, a qual está cada vez pior, os professores estão desmotivados, os alunos desinteressados e o sistema de avaliação é péssimo. Outro ponto negativo é a segurança pública, a sociedade vive cada mais insegura e quem deveria atuar na proteção está atuando na opressão, às vezes fica difícil confiar. Por último os diversos casos de corrupção e falta de clareza e interesse do governo em punir os envolvidos, o que nos leva a dúvida quanto ao envolvimento dos membros do alto escalão.
 
Zé Paulo – A jornalista Raquel Sherazade defendeu durante a exibição de um telejornal que a população por está indignada com a violência e a ausência do poder publico adote a prática da de fazer  justiça com as próprias mãos. Como você avalia este comportamento?  
Jorge Silva – É um comportamento perigoso, tanto o da jornalista quanto o da sociedade. Por um lado a jornalista tem um grande poder nas mãos, ela consegue difundir sua opinião para todo o país e até fora do país, principalmente nos dias de hoje que temos a internet como principal canal. Por outro lado temos uma sociedade cansada de injustiças, mas que na maioria não se preocupa em saber se aquela opinião é ou não cabível, ou se aquele fato é ou não verdadeiro, podendo cometer injustiça com as próprias mãos. Como exemplo, podemos citar o trágico acontecimento no Guarujá (SP), onde uma inocente foi cruelmente morta devido uma notícia mal divulgada. É preciso pensar, avaliar mais de uma opinião ou fonte sobre determinados assuntos e pensar nas consequências que as postagens em redes sociais ou outros canais podem tomar. Não adianta também a sociedade se rebelar contra seus próprios pares enquanto os verdadeiros inimigos estão sentados confortavelmente em seus luxuosos gabinetes (nas raras vezes que comparecem a eles).
  
Zé Paulo é economista e editor deste blog.  Jorge Silva também  é economista.  Ambos são formados pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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